Atotô Ajuberô
Não poderia deixar agosto ir embora, sem
falar do “Velho”, como carinhosamente é chamado Obaluaiê / Omulu.
Me interessei
pelo Candomblé após assistir a uma peça de teatro
sobre esse orixá na faculdade onde estudo. Fiquei encantada pela riqueza dos mitos afro-brasileiros, que
até então, eu não conhecia.
Obaluaiê, quer dizer, Rei da Terra (Obá =Rei / Aiyê = Terra) – orixá temido, pois é o dono da varíola e das epidemias. Considerado como o médico dos pobres, pois também é orixá da cura. Conhecido também como Omulu (Senhor das terras quentes – Ilé Igbona), Xapanã (nome que não deve ser falado), Velho, entre outros.
Obaluaiê rege o horário em que o calor é mais
forte, por vezes, considerado o próprio Sol. A pipoca é ofertada a esse orixá,
pois eclode do milho quente e também simboliza a erupção da varíola, doença que
acometeu esse orixá. É um orixá que se cobre com palha, essa que guarda o segredo da vida e da morte. Seu instrumento é o xaxará que serve para espalhar e limpar as doenças do mundo. Seu dia é a segunda-feira.
Artista Agnes Santos
Em agosto, as casas de Candomblé
realizam o Olubajé – o banquete do Rei, no qual são servidas as comidas votivas
da maioria dos orixás. Conta a história que Xangô, um Rei muito vaidoso, deu
uma grande festa no seu palácio e convidou todos os Orixás, menos Obaluaiê,
pois as suas características de pobre e de doente assustavam o rei do trovão.
No meio do grande cerimonial todos os outros Orixás começaram a notar a falta
do Orixá Rei da Terra e começaram a indagar o porquê da sua ausência, até que
um deles descobriu que ele não havia sido convidado. Todos se revoltaram e abandonaram
a festa indo a casa de Obaluaiê pedir desculpas; Obaluaiê recusava-se a perdoar
aquela ofensa até que chegou a um acordo; daria uma vez por ano uma festa em
que todos os Orixás seriam reverenciados e este ofereceria comida a todos,
desde que Xangô comesse aos seus pés e ele aos pés de Xangô, dando origem ao
Olubajé.
(fonte: http://espadadeogum.blogspot.com.br/2012/07/olubaje-e-o-ebomi-de-obaluae.html)
Obaluaiê tem as feridas transformadas
em pipoca por Iansã
Chegando de viagem a aldeia onde
nascera, Obaluaiê viu que estava acontecendo
uma festa com a presença de todos os orixás. Obaluaiê não podia estar na festa,
devido a sua medonha aparência. Então ficou espreitando pelas frestas do
terreiro. Ogum ao perceber a angustia do orixá, cobriu-o com uma roupa de palha
que ocultava sua cabeça e convidou-o a entrar e aproveitar a alegria dos
festejos. Apesar de envergonhado Obaluaiê
entrou, mas ninguém se aproximava dele. Iansã tudo acompanhava com o rabo do
olho. Ela compreendia a triste situação de Obaluaiê e dele se compadecia. Iansã
esperou que ele estivesse bem no centro do barracão. O xirê estava animado. Iansã
chegou então bem perto dele e soprou sua roupas de mariô, levantando as palhas
que cobria sua pestilência. Nesse momento de encanto e ventania, as feridas de Obaluaiê
pularam para o alto, transformadas numa chuva de pipoca, que se espalharam
brancas pelo barracão. Obaluaiê, o deus das doenças, transformou-se num jovem,
num jovem belo encantador. Obaluaiê e Iansã Igbale tornaram-se grandes amigos e
reinaram juntos sobre o mundo dos mortos
Obaluaiê
é filho de Nanã (a lama primordial de que foram feitos humanos) e Oxalá, tendo
nascido cheio de feridas e marcas pelo corpo como sinal do erro cometido por
ambos, já que Nanã seduziu Oxalá mesmo sabendo que lhe era interditado por ser
ele o marido de Iemanjá. Ao ver o filho feio e mal formado,coberto de varíola,
Nanã o abandonou à beira do mar, para que a maré cheia o levasse. Iemanjá o
encontrou quase morto e muito mordido pelos peixes e, tendo ficado com muita
pena, cuidou dele até que ficasse curado. No entanto Obaluaiê ficou marcado por
cicatrizes em todo o corpo, e eram tão feias que o obrigavam a cobrir-se
inteiramente com palhas. Não se via de Obaluaiê senão suas pernas e braços,
onde não fora tão atingido. Aprendeu com Iemanjá e Oxalá como curar estas
graves doenças. Assim cresceu Obaluaiê, sempre coberto por palhas,
escondendo-se das pessoas,taciturno e compenetrado, sempre sério e até
mal-humorado.
Um
dia, caminhando pelo mundo,sentiu fome e pediu às pessoas de uma aldeia por
onde passava que lhe dessem comida e água. Mas as pessoas, assustadas com o
homem coberto desde a cabeça com palhas, expulsaram-no da aldeia e não lhe
deram nada. Obaluaiê, triste e angustiado saiu do povoado e continuou pelos arredores,
observando as pessoas. Durante este tempo os dias esquentaram, o sol queimou as
plantações, as mulheres ficaram estéreis, as crianças cheias de varíola, os
homens doentes. Acreditando que o desconhecido coberto de palha amaldiçoara o
lugar, imploraram seu perdão e pediram que ele novamente pisasse na terra seca.
Ainda com fome e sede, Obaluaiê atendeu ao pedido dos moradores do lugar e
novamente entrou na aldeia, fazendo com que todo o mal acabasse. Então, o
alimentaram e lhe deram de beber, rendendo-lhe muitas homenagens. Foi quando
Obaluaiê disse que jamais negassem alimento e água a quem quer fosse, tivesse a
aparência que tivesse. E seguiu seu caminho. (fonte: http://www.filhosdeoba.xpg.com.br/obaluae%20mito.html)
Por
fim, fiquem com o som divino do Quinteto Abanã:
Referência:
André Luiz Pinturas |
Obaluaê traz a doenças e as cura
Carybé |
Axé a tod@s!
Referência:
Odé Kileuy e Vera de Oxaguiã. O candomblé bem
explicado: Nações Bantu, Iorubá e Fon. Organizador: Marcelo Barros. Rio de
Janeiro: Pallas Editora, 2009.
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