Águas de Oxalá
Cláudia Krindges |
Águas de Oxalá é uma cerimônia anual dentro das casas de candomblé, é
o início do ano litúrgico e representa um pedido de perdão pelas
injustiças ocorridas com Oxalá em sua visita ao Reino de seu filho
Xangô. Compartilho com vocês um texto sobre essa cerimônia...
Esse
ritual anual de purificação, renovação, pode ser considerado um “rito de
passagem”, o fim e o começo, um novo ciclo, reverencia a presença da água,
fonte primordial da vida, que se apresenta em todos os rituais da Religião dos
Orixás. A Água é enobrecida na abertura do calendário, com os ritos de
Orixan’lá, como procedência de Orí no Ayê – Iyá Omí Olorí – mãe de Orí, uma
antiga divindade das águas, a deusa que se assenta na fonte de origem,
simbolicamente, um banco, cadeira de espelho no umbigo do mar, no seio das
águas, lugar simbólico da transformação. Mãe Ancestral. A celebração do Orixá é
precedida de uma meticulosa preparação, interação e durante 16 dias.
Oxalá
representa a pureza, Obatalá, O rei do Imaculado ou O rei do Branco, não
existirá outra cor durante os 16 dias na liturgia das Águas se não, o “Branco,”
dentro do terreiro e a todos que lá chegarem, a retidão e o silêncio tomarão
conta do Axé, tudo deverá estar limpo, a preocupação com as roupas que deverão
estar alvas, engomadas e perfeitas. Do portão de entrada do terreiro até a
porta do barracão e demais dependências, será estendido sobre nossas cabeças
uma peça ou mais de morim branco, cobrindo como um teto os Orís de todos. Na
maioria das casas, o ritual começa na madrugada da sexta-feira com a confecção
do baluwê (pequena cabana feita com bambus e de folhagens de coqueiros,
pitombas, etc) o ajubó do Oxalá mais velho será posicionado sobre uma enorme
bacia, outros assentamentos de Oxalá podem ficar ao lado acompanhando o velho
Orixá, permanecerão até o 2º domingo das águas quando então Oxalufan volta para
sua casa. Começará então a procissão de ir ao rio ou na fonte pegar água
fresca, cada um com seu pote, jarro ou quartinha sobre seus Orís para depois
levarem até a cabana de Oxalá e lá a Iyalorixá ou Babalorixá estará esperando
todos e em ordem hierárquica, receberá as quartinhas com água e lavará o Orí de
cada um, colocando um Obí no Orí cobrindo-o com um ojá. Esse ritual é feito em
todos que se encontrarem na casa, abians, iniciados e visitantes, sem excessão,
o Orí se renova. Retorna-se ao rio ou fonte mais algumas vezes dando seguimento
ao osé de Oxalá.
O
ritual em algumas casas mais tradicionais é feito em quatro momentos e seguida
de três domingos subsequentes com festas e grande orô. Os domingos de festa
cumprem uma etapa fundamental das obrigações, o ciclo se realiza ao se
reviverem durante os 16 dias o caminho mitológico do Orixá nos três domingos e
tudo começa na saudação a Orixan’lá bem cedo em frente ao seu Ojubó na cabana,
todos postados com o Orí sobre os punhos em formato de pilão, rezando e
saudando o Orí ( Orí Aperê o).
1º
Domingo-Festa de Oduduwá (ancestralidade- A Terra).
O
caminho do Orixá, a paz silenciosa toma conta de tudo, as roupas alvas, a
alimentação sem sal por 16 dias o ajeum funfun estará presente. O ciclo do
primeiro domingo se fechará num orô somente com Orixás funfun em roda e os
omolorixás da casa no toque tradicional do batá em celebração a Oduduwa ao mais
antigo Orixá funfun.
2º
Domingo- Festa de Oxalufan (ancestralidade- O Alá).
Continua
o preceito e neste dia bem cedo antes do xirê, os assentamentos, cabaças e axés
voltam para sua “Casa”, ao som de cantigas e revoadas de pombos brancos soltos
por egbomis, um grande Alá acompanha o Orixá em seu retorno que passará para
reverencias no Ilê Ibô Akú (casa de antigos ancestrais) e também na casa ou
quarto de Yemanjá. Terminado a caminhada em sua casa ou quarto, o Grande
Oxalufan descansará e as Iyás arrumarão seu ajubó entoando cantigas em tom
baixo em respeito e devoção. Mais tarde na festa, o xirê se repetirá em roda,
muito Ebô, o rítmo Igbí, Babá Daribô com seu Opaxorô nos brindará dançando ao
som de cantigas toda sua odisséia.
3º
Domingo- Festa de Oxaguian (Ancestralidade- O Pilão).
Orisagiyan
é o Elemoaxó funfun, cantigas mais aceleradas e a dança do Guerreiro do
universo, do Pai Senhor da Guerra à Paz. Aparecem as contas com seguí, símbolo
que o dignifica como único Orixá funfun Ajagunan. A raiz de inhame é o elemento
que se apresenta da cozinha direto para o barracão, como prato do preceito, em
bolas de inhame pilado, alimento de expansão do Axé, o simbolismo da Tradição
dos Orixás. . Cantigas lembraram os ritos do atorí e vários atoris são
distribuídos pela Iyalorixá ou Babalorixá que dá início tocando em Oxaguian e
depois vão tocando uns aos outros na roda de forma hierárquica em que do mais velho
Oxalá ao mais novo iniciado da casa participam até que todos tenham sido
tocados por Oxaguian. O ciclo e todas as festividades das Águas de Oxalá, de
renovação da existência e expansão do Axé serão encerrados formando novamente a
roda e fazer o encerramento com a cantiga em reverencia Olodumare.
Texto extraído de: http://omidewa.com.br/public_html/arquivos/902
Calendário de festas do Axé Ilê Obá (www.axeileoba.com.br)
05/09 – Águas de Oxalá,
a partir das 22h.
08/09 – Festa de
Oxalufan / Oduduwá, a partir das 16h.
15/09 – Festa de
Oxaguian, a partir das 16h.
28/09 – Festa de Xangô
Alafin, a partir das 16h.
Xeu Epa Babá!!!
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