Nanã - a senhora da lama primordial


Neste ano, eu representarei Nanã no bloco afro Ilú Obá de Min, que homenageará as Yabás – as Deusas do Axé.  Por isso, compartilharei aqui no blog alguns materiais - vídeos, músicas, fotos, textos, etc – que eu tenho encontrado sobre essa yabá tão cheia de mistérios, mistérios que cercam a vida e a morte. 
 
A Pallas Editora tem uma coleção de livros chamada Coleção Orixás (quem vê o tamanho pequeno do livro não sabe a grandeza de informações que traz). Hoje compartilharei alguns trechos do livro “Nanã, a senhora dos primórdios” da autora Cléo Martins que faz parte dessa coleção.
 
 
 
  

Nanã, a aiabá (orixá feminino) dos primórdios, é a senhora das águas paradas, dos pântanos e lagoas, das areias movediças e das poças de água. É a senhora da lama, por excelência: a síntese de elementos primordiais, podendo ser definida como ‘início, meio e fim’.
 
Nanã - tela de André Luiz Ferreira
Nanã se apresenta na forma de uma senhora idosa e muito lúcida, sábia, poderosa e que tem conhecimento do próprio poder. Ela é justa e solitária, forte e corajosa, e, mais do que tudo, dotada de um caráter ambíguo: é fonte da vida por excelência, mas também é a senhora de Icu, a morte.
Senhora da ambiguidade que não engana. É considerada Ìyá Nlá – a grande mãe da criação – epíteto dividido com Odudua e Iemanjá – e Ayaba l´arè, a grande rainha da justiça, o que a faz tão poderosa quanto Xangô, o padroeiro da justiça.
 
É a senhora do equilíbrio, da sabedoria, do conhecimento, da experiência. Quando as pessoas querem ter discernimento, pedem a Nanã que lhes clareie as mentes.

É a senhora do lilás, sua cor preferida: uma mistura de azul marinho e branco, com uma pitada de vermelho, uma combinação equilibrada de todos os vetores do sagrado. A sobriedade é condição necessária confecção das vestes de Nanã, tendo em vista sua condição de senhora do equilíbrio. A ferramenta de Nanã é o ibiri, trazido por suas sacerdotisas na mão direita. Ibiri significa “meu descendente o encontrou e o trouxe de volta”

A dança de Nanã evoca o que ela representa: água parada, lama, maternidade, ancestralidade, senilidade, colheita, feminilidade. Nanã baila curvada sobre o ibiri, carrega-o com ambas as mãos a imitar o movimento de alguém que pila os grãos ou nina um bebê.
 
O mito abaixo relata como Nanã ajudou na criação do homem, tornando-se a senhora da vida e da morte:
Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o Orixá tentou vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada. Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos Orixás povoou a Terra. Mas tem um dia que o homem tem que morrer. O seu corpo tem que voltar à terra, voltar à natureza de Nanã. Nanã deu a matéria no começo, mas quer de volta no final tudo o que é seu.  (Fonte: Sociedade Espiritualista Mata Virgem)
 
 
Outros mitos sobre Nanã podem ser lidos em outro post que escrevi sobre ela: http://www.elekomulheresguerreiras.blogspot.com.br/2012/07/dia-26-de-julho-dia-de-nana.html
 
 
 
Saluba Nanã!!!
 
Referências:
1- Martins, Cléo. Nanã: a senhora dos primórdios. Rio de Janeiro: Pallas, 2011
 
2- Sociedade Espiritualista Mata Virgem. Curso de Umbanda. Nanã

Comentários

  1. Apesar do ibiri ser o mais significativo símbolo - ferramenta da Yabá Nanã, existem outros elementos simbólicos, que junto a indumentária constituirão sua parafernália litúrgica. Cuja composição harmoniosa personificará a qualidade-caminho-desdobramento do orixá que apresentar-se-á em momentos cerimoniais públicos.
    Devemos no entanto ressaltar a universalidade de Nanã na diáspora, sobressaindo o Brasil, onde seu culto é bastante abrangente. Sendo assim, cada tradição religiosa apresentará alguma particularidade ao seu culto, sobressaindo principalmente na forma de vestir Nanã. Achamos que antes de serem contraditórias essas singularidades devem ser analisadas como reminiscências de um todo fragmentado e disperso na diáspora. Por Nanã ser uma divindade nagô-yorubá arcaica, é provável que tal fragmentação já existia em uma África pré-colonial, sendo intensificada com o advento da dominação européia. Muito deste passado foi preservado na diáspora, podendo ser comparável a fósseis vivos. Isso explicaria o grande interesse dos africanos nas nossas tradições religiosas.

    Entre os outros apetrechos de mão (ou ferramenta de mão) do Orixá Nanã no Brasil podemos destacar: cajado de madeira, vassoura de palha-da-costa, abebé de palha e arpão em madeira.

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  2. Felix Marinho, obrigada pela rica contribuição!

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