Yemanjá e a dança sagrada das águas
Hoje, falarei do simbolismo da dança de Yemanjá. Yemanjá é uma yabá que todos já ouviram falar e quem me conhece sabe como sou apaixonada por ela. Sempre que penso em Yemanjá, vem aquela imagem de rainha, soberana, a grande mãe que acolhe seus filhos e que os educa com rigor...No xirê, suas cantigas são o som das águas do mar batendo nas rochas, encantando e embalando a tod@s.
Na tradição dos orixás, uma mulher tem suas diversas faces, sem que uma anule a outra. Me incomoda quando Yemanjá é vista apenas como mãe (é óbvio que a maternidade é uma das características marcante dela), mas ela é também amante, guerreira, responsável pelo equilíbrio emocional de tod@s:
“Se a sociedade patriarcal reduz a
sexualidade feminina apenas à procriação, as deusas africanas são mães e
amante. Iemanjá, mãe dos orixás, enfeitiça os homens e os atrai ao seu grande
ventre (o mar). Ela os devora porque é de temperamento apaixonado e instável,
ciumento e possessivo, ela é o mar, calmo e plácido, violento e destruidor. Ela
rejeita os filhos, ela os ama com furor” (Instituto Geledés, 1993).
Para falar da dança sagrada das águas, utilizarei do texto de BARBARA (2002):
A dança
sagrada contempla dois aspectos: um lado exterior e um lado interior.
O primeiro é
transmitido por meio dos movimentos, as roupas litúrgicas e os objetos
sagrados. As roupas litúrgicas, os materiais com os quais são costurados nos
contam as fontes de subsistência (por exemplo uma roupa de conchas mostra que
aquela comunidade vive de pesca) e nos indica qual seja a sua posição na
hierarquia social (através da posição de algumas partes do vestido percebe-se
se são mulheres iniciadas ou não e há quanto tempo; se são filhas de uma
divindade feminina ou não, etc.).
Os objetos
sagrados relatam: a qualidade do orixá, a sua ligação mitológica e a sua função
cósmica. Por exemplo o abebé, um leque e a espada de Iemanjá relatam seja o
lado guerreiro da deusa seja a sua ligação com o mundo feminino relatado por
meio da forma redonda do abebé e da cor de prata do mesmo que lembra a lua, o
elemento do feminino por excelência.
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O segundo é a transformação interna em algo outro, diferente da identidade
cotidiana, é o duplo espiritual que encontra-se no orum.
O aspecto interior da dança é a metamorfose que acontece dentro da sacerdotisa
ao longo do transe. Este fenômeno, do qual muito se escreveu, mas sem alcançar
uma explicação exaustiva devido ao fato de ser uma experiência de fé, intima e
preciosa e por isso dificilmente compreendida por aqueles que não a
experienciaram.
Tanto a música, quanto a dança que a acompanha expressam o caráter do orixá e
os acontecimentos da sua vida. As histórias míticas, as qualidades, as virtudes
e as falhas dos orixás são passadas aos fiéis através das letras das cantigas.
A concentração e a busca interior permitem expressar a própria música e a
própria gestualidade, que é única e pessoal e que corresponde à
"qualidade" de cada orixá.
Iemanjá dança
com movimentos de menor dimensão horizontal. Quando Iemanjá locomove-se como
onda, por exemplo, ela ocupa um espaço mais em vertical e também seu movimento
é um andar e um vir para si mesma, é um movimento mais introspectivo, mais
ligado à interioridade.
O nível da dança
de Iemanjá é de médio a baixo. Quando Iemanjá dança representando a onda do
mar, o corpo permanece mais nesses dois níveis. Ela expressa o lado feminino da
fecundidade, da reprodução, do interno e, por isso, é mais chegada ao nível
baixo, aos órgãos sexuais e da reprodução, ao útero, Iemanjá é mais estática,
anda devagar como uma grande rainha, e constrói ao seu redor círculos
concêntricos que vão sumindo aos seus limites.
As danças de
Iemanjá são constituídas por movimentos amplos, os pés posam mais no chão, a
demostrar o equilíbrio, enquanto os braços movimentam-se com grande fluidez. O
corpo está levemente dobrado para o chão em uma forma redonda a lembrar a forma
materna da deusa e a sua disponibilidade em acolher e em conduzir, o corpo todo
expressa o movimento rítmico das ondas, mas também o mistério da água que traz
do fundo do mar para as superfícies as riquezas e o encanto do mar.
A forma do círculo tem uma grande importância na África, Neumann (1981:214), simbolizando a Grande Mãe, que em si contém os elementos masculinos e femininos. Por isso as coreografias referentes às divindades da Água, possuem um movimento circular.
A forma do círculo tem uma grande importância na África, Neumann (1981:214), simbolizando a Grande Mãe, que em si contém os elementos masculinos e femininos. Por isso as coreografias referentes às divindades da Água, possuem um movimento circular.
Escolhi
esses dois vídeos que trazem as lendas, cantigas e dança dessa grande Mãe:
1-
2-
E
quem for fazer oferenda amanhã a Yemanjá, use o bom senso, orixá é força da
natureza, então não polua os mares, use materiais que não agridam o reino da Grande Mãe.
ODOYÁ!!!!
Referências
Barbara,
Rosamaria. A dança das Aiabás: dança,
corpo e cotidiano das mulheres de candomblé. 2002. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-09082004-085333/pt-br.php
Cadernos Geledés IV: http://www.geledes.org.br/geledes/o-que-fazemos/9556-cadernos-geledes-edicoes-comemorativas-de-23-anos
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