Salve Xangô


Hoje é o dia do Rei, do senhor da justiça, do senhor dos trovões, do fogo... e é claro que não poderia deixar a data passar sem escrever sobre o meu pai Xangô. 
 
 
"Xangô é, portanto, uma das poses com que minha naturalidade é fotografada pela vida. Quem sabe, até, a principal pose. Mas não sou eu quem capto, é a câmera da vida. É quase com se eu dissesse que eu mesmo não posso ver Xangô em mim. Ele é visto pelos olhos do mundo.
Quem vê seu machado bilaminado em minhas mãos é o outro. Quem percebe os detalhes de cada pé e cada mão no dinâmico bailado do alujá... da minha vida é o outro. Quem sabe que é Xangô, reunindo ao meu redor as mães dos meus filhos, é o outro. O outro é o tempo, a história, a tal câmera que capta a pose altiva do orixá em mim.
Xangô é, portanto, a minha maneira natural de ser, de ser visto. Querer ser dele a chispa, a fagulha, a brasa, a chama, e até a labareda quando seja. Querer que ele seja e que ele seja visto em mim. Xangô é portanto, o meu retrato, minha pintura, minha cantiga, meu tato, meu modo de dizer. Xangô é minha naturalidade. "
  
Gilberto Gil
 


Xangô é a ideologia, a decisão, à vontade, a iniciativa. É a rigidez, organização, o trabalho, a discussão pela melhora, o progresso social e cultural, a voz do povo, o levante, à vontade de vencer. Também o sentido de realeza, a atitude imperial, monárquica. É o espírito nobre das pessoas, o poder de liderança. Para Xangô, a justiça está acima de tudo e, sem ela, nenhuma conquista vale a pena; o respeito pelo Rei é mais importante que o medo.
Xangô é pesado, íntegro, indivisível, irremovível; com tudo isso, é evidente que um certo autoritarismo faça parte da sua figura e das lendas sobre suas determinações e desígnios, coisa que não é questionada pela maior parte de seus filhos, quando inquiridos. Suas decisões são sempre consideradas sábias, ponderadas, hábeis e corretas. Ele é o Orixá que decide sobre o bem e o mal. Ele é o Orixá do raio e do trovão. (Extraído de: http://www.casaiemanjaiassoba.com.br/xango.html)

Prandi e Vallado relatam que "Guerras, conquistas, povoamento de novas terras, escravidão, descoberta e renascimento, tudo isso faz parte da história de Xangô, rei e guerreiro, como faz parte das memórias de nossa própria civilização de brasileiros. Seu duplo machado visa a justiça para cada um dos dois lados que se opõem na contenda, suas pedras-de-raio são o santuário guardião das esperanças de tanta gente que padece em conseqüência das mazelas de nossa sociedade: desemprego, falta de oportunidades, incompreensão e dificuldade no trabalho, escassez de meios de sobrevivência, perseguição e disputas insanas, inveja, complicações legais de toda sorte, e tantas outras coisas ruins. Apelar a Xangô, para o devoto, é buscar alento, realimentar esperanças, prover-se de forças para a difícil aventura da vida.
Mas no terreiro em festa, sob o roncar frenético dos tambores, a dança de Xangô não é tão somente demonstração de energia e de força marcial, de cadência e de vitalidade, mas igualmente harmonia, graça e sensualidade. Xangô é duro, mas também se compraz com o bom da vida. O paladar de Xangô lembra as qualidades do bom glutão que não dispensa jamais o prazer da boa mesa, tanto que até nos faz pensar nele como um rei gordo e guloso. Tanto é assim que suas oferendas votivas devem ser sempre servidas em grande quantidade, pois Xangô aprecia que seus súditos comam muito e bem.

Seu prato predileto é o amalá, comida feita à base de quiabo, camarão, pimentas de várias qualidades, e tantos outros condimentos que são verdadeiras iguarias, utilizados pelas filhas-de-santo que muito apreciam e disputam a preparação da comida para os deuses. A comida servida no terreiro serve também para “reunir gente”, e Xangô é o orixá que mais as acolhe, pois toda corte é repleta de súditos e não seria diferente no terreiro, onde há sempre muita gente, muita dança e muita comida.

André Luiz Ferreira Pinturas
Além de orixá comilão, Xangô também é o grande amante e teve muitas mulheres como contam seus mitos. Um deles relata que Xangô era um rei poderoso, um dia apareceu em seu reino um grande animal que devorava a todos, homens, mulheres e crianças. Xangô, acompanhado de suas três mulheres resolveu enfrentar o animal monstruoso. Xangô amava suas esposas, mas amava também todos os homens e mulheres que o acercavam, e nada mais natural do que defendê-los de tal criatura. O ser monstruoso rugia e toda a terra tremia. Xangô não quis soldados para vencer o animal. Xangô lançou chamas de sua boca e derrubou o animal matando-o depois num só golpe com seu oxé. Vitorioso, Xangô cantou e dançou, estava feliz. Dali em diante foi ainda mais amado pelos homens e mulheres de seu povo e por todos aqueles que ouviram falar de seu feito."


Por fim, não poderia faltar música para o Rei:




Kawo Kabiecile - "Venham ver o Rei"



Fogueira de Xangô - 29/06/2013 - a partir da 16hs no Axé Ilê Obá (mais info: www.axeileoba.com.br)
 


 

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